domingo, 30 de dezembro de 2012

Uma janela é infeliz fechada

Deitada em minha cama, perdida em lembranças de quando eu era menina, me pergunto se você gostaria do meu sorriso de ''janelinha''... É, eu te transporto até para onde você nem me existia. Me viro e vejo o porta-retrato cinza que ganhei de natal da sua avó. Ele parece se mexer. De repente, me entoando espanto, ouço o murmúrio: é a mulher da fotografia, vestida de noiva e feliz no colo de seu marido, resmungando para mim.
-O que é que você tem?!
-Você fala?
Respondo incrédula - Era uma situação improvável, eu estava mesmo falando com uma fotografia?
-Não, é tudo uma ligeira impressão sua... - Ela respondeu com ironia, pois sabia do meu hábito de dar essa resposta à perguntas tolas - É claro que estou falando, sua boba! O que é que você tem dentro dessa cabeça?!
-Bem, estou lembrando da minha infância, talvez; qual o problema?
Eu ainda resistia a ideia de que estava mesmo conversando com a noiva da fotografia e ainda mais que ela estava enfurecida comigo; rezei para que ninguém me visse naquela situação.
-Qual o problema mocinha? Qual o problema?! O problema é que você é um tanto orgulhosa, não acha?! Mas é claro que acha, mas dirá que tem suas razões, afinal, você é orgulhosa demais para admitir que é orgulhosa por pura infantilidade! Você pensa que não estou vendo seu estado... É evidente que está se corroendo por dentro por ter agido dessa forma e veja só a que ponto chegou; fez-se necessária a intervenção de uma foto!
Irritada, respondo.
-Quem você pensa que é para falar dessa forma comigo?! Você acha que me conhece... Está no meu quarto a menos tempo do que estou em mim mesma e pensa que sabe algo de mim; pois lhe digo que não sabe nada! E mais, não ouse dar pitacos, ou te ponho na sala-de-estar para vigiar a vida das visitas!!
-Pois me coloque onde quiser, só paro de dar ''pitacos'' quando você parar de agir feito uma imbecil!
-Auto-lá! Quem você pensa que é para chamar a Gabi de ''imbecil''? Tudo bem que ela é orgulhosa e geniosa, mas também é muito amável e só cobra dos outros, porque cobram dela!
Interviu meu Snoopy de pelúcia em minha defesa.
-Obrigada Snoopy, mas pode ir cochilar, dessa noiva barata cuido eu!
Dou um sorrisinho de gratidão e um beijo na testa da minha pelúcia. Volto para a discussão...
-Olha só, eu sou mesmo geniosa e dificílima de lidar, mas o que é que você perde com isso? E se eu mudar, o que você ganha? Ora, me deixe em paz! Já é desgastante arcar com as consequências do meu teimoso orgulho e ainda ter de ouvir conselhos descartáveis no meu momento de paz?! Não mesmo! Cale a boca já!
-Quem perde é você, Gabi... -A noiva falava num tom materno e amigável, de quem só queria meu bem e eu sabia que sim, mas me espantei com a mudança no clima da conversa - Não percebe todo o mal que está fazendo a ele? Não percebe toda a dor e peso que traz a si mesma? Para de teimosia menina, aprenda a relevar. Saiba conviver melhor com seus defeitos e com os defeitos dos outros, principalmente dos que te amam... Você pensa que é legal te ver me encarando no colo do meu esposo? E você acha mesmo que não vejo em seus olhos o quanto você quer ser feliz como eu um dia e com ele, do mesmo jeitinho que estou na foto? Eu sinto seu olhar de decepção consigo mesma cada vez que age dessa forma, é como se essa possível realidade ganhasse alguns metros de distância da concretização, eu vejo. 
A noiva me encarava com ternura e com uma ponta de piedade, aquilo me revoltava, eu não queria piedade, eu não precisava disso! Já ia me pronunciar em reprovação, quando abri a boca...
-Mas, você...!!
-Shiii...
Interrompeu-me a noiva, colocando o indicador sob os lábios e lembrou-me...
-Releve...
A noiva sorriu, voltou para o colo de seu noivo dentro da fotografia, o deu um beijo e piscou para mim, retribui. Virei-me na cama um pouco irritada e dei de cara com meu Snoopy, ele sorria para mim, me tranquilizei.
-Dorme bem Gabi...
-Só se for abraçada com você...
Disse num tom de brincadeira; Snoopy gargalhou e perguntou.
-Ele não vai ter ciúmes?
-Que nada! Depois eu me acerto... Vem cá...
Puxei minha pelúcia para um abraço, fechei os olhos e adormeci leve.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reviravolta

As perturbações me perseguem; não em pensamento ou no coração, mas na alma. Eu transpiro stress, eu falo irritada e durmo com problemas; ''durmo''. Engulo cada pedrinha do dia-a-dia, cada sapo que me empurram goela abaixo e tolero qualquer frase mal feita ou aquele famoso ''Não quis dizer isso'' e até entonações erradas. Eu aguento, não firme e nem forte, mas estou aqui, não estou? Minha perna bambeia sim, eu fico tonta, ''piso na bola'', mas permaneço aqui e ai de quem ousar tentar me tirar. Eu pareço uma bombinha, saio gritando ao mundo minha indignação, minha revolta e meus palavreados mais chulos; machuco quem não merece, quem não tem haver, quem ta aqui para o meu bem e às vezes quem ta aqui para o contrário -ainda bem! Falo o que não devo, faço o que não quero, me encho de orgulho, bato no peito e em seguida morro de arrependimento; engulo o orgulho amargo no sabor de um gole único e corro atrás do prejuízo. Pois sei que não há mal que não se converta em luz. Eu me mantenho aqui, o mais firme e ereta que meus músculos aguentam, ainda que eu não aguente mais nada, pois sei que enquanto aqui é noite, do outro lado é dia.