domingo, 21 de julho de 2013

Não petrifique

O cimento,é cimento. Não importa se mole ou endurecido, não importa. Mas sábio é aquele que retira-se do cimento enquanto mole, bem-aventurado o que ousa e desteme inovações. Sair da própria solidez e experimentar a fluidez, ainda que arriscada. O homem precisa se locomover, ou atrofiará. Caminhar é preciso, ter fé é essencial. Pois fé é trilhar caminhos desconhecidos, incertos, repleto de alterações; a fé necessita amadurecer, sempre e mais. Ruim é acomodar-se, pisar no cimento e ali residir, enraizar, até o cimento se concretizar, sem opção de sair, por medo. Medo de questionar, discordar, não agradar... Medo e fé são caminhos opostos, não dá para unir o inútil ao agradável. Limpe seus pés, antes que o cimento e o medo te façam prisioneiro.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mais uma vez, Renato, mais uma!

"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei..." Será mesmo Renato? - A menina se perguntava em pensamento; até onde aquilo o que ouvia era verdade e quais fundamentos teriam por trás. Sentada na cadeira de um ônibus, curtindo seu som pelo celular e sem o fone de ouvido... Percebia que a música atraia os olhares dos demais passageiros, uns franziam a testa como quem acha uma completa falta de educação compartilhar o gosto musical assim, outros cantavam mudo e um bocado sequer ouvia. "Danem-se.'', pensou. Afinal, tinha concluído que todos precisavam daquela letra, o alerta de Renato, gostassem ou não. "Nem todo mundo suporta a verdade...", justificou. "Espera, que o sol já vem..." cantava Renato para todos ao redor, a menina realmente acreditava estar ajudando as pessoas, motivando-as, talvez. E Renato: "Se quiser alguém em que confiar, confie em si mesmo."... A menina cada vez mais tomava para si aquelas palavras. Olhava pela janela mas estava cega, nem a brisa sentia, as pessoas ao redor foram esquecidas... "Quem acredita sempre alcança, quem acredita sempre alcança, quem acredita sempre alcança, quem acredita sempre alcança..." -A mocinha pode abrir mais a janela, por favor? Ta um calor aqui, nossa, não tô aguentando... O rapaz fardado lhe falou, despertando-a de seu mundinho com cutucadas irritantes. Odiava ser cutucada. -Claro... Ela tentou ser educada, apesar do cutuque. Abriu a janela "P da vida", como ela mesma classificou em pensamento. Observou as pessoas ali, espremidas, mortas apesar de vivas, cinzas... "Que lamentável!", preocupou-se. Quando deu por si, a música já havia parado. "Mais uma, pra quem ainda não se convenceu..." e deu o play, de novo... "Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei...", cantarolava Renato, no mesmo tom, pela milésima vez. Uns já não aguentavam mais a mesma música, mas a menina dizia ser "um mal necessário" e voltou a fitar a janela, sem nada enxergar, buscando seu casulo, mais uma vez...