quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sou bem assim

Uma rosa,
Mesmo espinhosa,
Talvez um bocado murcha,
Ressecada e até despetalada;
Maltratada, endurecida e calejada,
Continua rosa...
Sou bem assim.

Uma caixa,
De vidro sensível,
Papelão amassado,
Ou metal descascado,
Mesmo vazia, sem uso e visual,
Permanece caixa...
Sou bem assim.

Um animal,
Dócil ou hostil,
Nutrido ou não,
Seja gato, seja cão,
Triste, feliz, esperto ou bobão,
Ainda é animal...
Sou bem assim.

Um relógio,
De pulso, parede, inútil,
Sem ponteiro, sem hora ou minuto,
Adiantado, atrasado, em desuso,
O aspecto dele já é o lucro,
Sempre será relógio...
Sou bem assim.

Uma bola,
Sem pé, sem campo, sem loja,
Vitrine, etiqueta ou moda,
Murcha, cheia, rasgada,
Velha, nova, própria ou emprestada,
É uma bola...
Sou bem assim.

Uma canção,
Sem dó, sol, nem ré,
Nem lá, nem cá, sem lugar,
Ouvida sim ou não,
Tocando ou não um coração,
É canção...
Sou bem assim.

Um amor,
Vazio, cheio, repleto de dor,
Bonito, sofrido, que marcou,
Passou, ficou, enganou,
Magoou, motivou, deserdou,
Sempre é amor...
Sou bem assim.

Um alguém,
Sem ninguém,
Sem rosa, caixa, animal,
Nem relógio, bola ou canção,
Sem amor, sem coração,
É alguém?
Sou bem assim.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Parem o mundo que eu quero dormir.

Estou cansada.
Todos estão,
Mas insistem em trabalhar.

O que não faz nada,
Ta cansado de ver o tempo passar.
E eu to aqui,
Me cansando de me cansar.

-Vem alguém pro meu lugar!

Ta todo mundo zumbi,
Estressado, acabado,
Querendo dormir,
Tudo isso por um salário ordinário.

Se não é salário, é vaga na universidade.
Me digam de onde vem tanta mediocridade!

O dia só tem 24 horas
Mas me tratam como se durasse 30.
Tenho 17 anos
Mas me tratam como se tivesse 30.

-Seja responsável! Honre seus compromissos! Estude mais! Deixa de reclamar! Você não faz nada da vida! Infelizmente é a vida... Lave os pratos! Não vai faltar o inglês! Já faltou demais! Atrasada de novo? Doente de novo? Você não é doente! Só vive doente! Você não tem idade de estar irritada! Você já ta na idade! Passe! Saia! Vá à terapia! Você precisa relaxar! Não vai à lugar nenhum! Você não é mais criança! Vá dormir! Acorde! Arrume seu quarto! Arrume suas coisas! Arrume sua vida! Se arrume! Venha logo! Vá embora! Junte dinheiro! Arrume dinheiro! Ganhe dinheiro! Preciso de dinheiro! Já chega! Ainda nem começou! Só vai piorar... Não faça isso! Releve! Aprenda! Levante! Não caia! Não coma! Coma direito! Você não faz nada direito! Me ajude! Ajude! Se ajude! Você não precisa de ajuda! Se vire! O problema é seu! Você é o problema! Resolva! Sorria! Não chora... Você não pode chorar! Você não tem motivos para chorar! Para de chorar!!! Cala a boca! Menina calada! Seja simpática! Cumprimente! Diga que gostou! Diga sim! Você só diz sim! Aprenda a dizer não!

- Não aguento mais.


domingo, 18 de agosto de 2013

Pra poder dormir

To sem razão,
Sem motivo,
Inspiração ou...
- Sei lá!

Só tô aqui,
Por precisar mesmo,
Questão de saúde, de alma...
De dormir.

É que às vezes,
- Você não entende -
Me bate um desejo
De escrever, sei nem o quê.

Desculpe te fazer perder tempo
Lendo isso aqui.
É tão inútil, não é?
Se eu fosse você, nem terminaria, iria dormir!

Ta, se você insiste
É porque se assemelha à mim.
Você é um desocupado, admite!
Não? Então me diz por que ainda está aqui.

Nem reclama,
Você sabia desde o começo
Que esse poema era um pretexto
Pra resolver um conflito entre eu e minha cama.

Enfim, o sono bateu,
Seu tempo já deu,
E...
- zZzZzZzZzzZzzZZzZzZ...

sábado, 17 de agosto de 2013

Nossa cara

Você sabe bem mais que eu
Que não dá pra enrolar,
Não mais que isso.
Dar um basta ou deixar?

Só - Foi assim que brotou
Que enfim se emaranhou,
Deu um laço e cegou
E agora me desgasto em enxergar.

Todo esse dilema
Que veio me atormentar,
Não te agoniza mais que eu
E só eu pareço aguentar.

Nós, juntos feito nós,
E pra quê essência,
Toda essa magnificência,
Se não sabemos ser, nem desatar?

Eu só quero que não enroles mais.
Te peço até,
Talvez de joelhos;
Decide qual o sentido de nós, darás.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O mágico mundo do (rapaz do cilindro) circo!

"Que bobagem!" - pensei. Minha mãe tinha mesmo que inventar de ir ao circo? Nem quando criança gostava muito. Talvez na primeira vez, ou até na segunda, mas da terceira visita em diante já havia perdido a graça. Tudo bem, depois da aula encontrei com a ''madame'' e fomos ao tal circo. No caminho o tédio já me consumia, preparava minha mente para ver as mesmas coisas, me impressionar - ou não - com os mesmos truques, me irritar com o barulho ensurdecedor do nada inédito globo da morte, fingir achar graça das piadinhas dos palhaços... "Aargh, ninguém merece!". Talvez, para maioria das pessoas eu soasse um bocado sem graça, ranzinza, ou como minha mãe resmungou, uma "velha mal amada". Não é fácil ser obrigada a ir ao circo e ainda ter de lidar com as pieguices de mamãe. E do restante das pessoas que me perguntaram se eu estava gostando - e sincera, respondi que não. Jamais gastaria minhas mentiras num momento débil daquele. Jamais! Sentamos bem à frente, na primeira fileira; tentei - em vão - argumentar.
-Mãe, aqui não, eles vão molhar a gente, cê sabe!
-Deixa de reclamar Gabriella, menina chata! Eu quero aqui, que dá pra ver melhor e eu to mandando você ficar aqui também!
-Mas mãe, meus cadernos! Sabe-se lá o que esse povo vai fazer, não quero correr riscos!
-Cala a boca e senta, menina! Anda, tô mandando!
-Chata!
-Sentou?!
Sim, eu sentei e mais emburrada impossível, diga-se de passagem. Pareceu que todo mundo do trabalho da ''majestade'' resolveu ir ao circo também. Minha mãe tagarelou, me obrigou a sorrir, ser simpática e por ter sido umas das primeiras a chegar, bancou a anfitriã de sei lá o quê, com seus ''Ah, pode sentar viu? Fique à vontade...", sorrindo acolhedora. "Até parece que o circo é dela!" - eu resmungava em mente, ainda abusada com o autoritarismo cujo fui vítima. "Quem dera fosse..." - complementei. Pois bem, as luzes apagaram e a gravação estava no ''play''. "Vamos lá...", pronunciei baixinho, desanimada, enquanto respirei fundo. Quando dei por mim, 37 minutos haviam se passado e eu estava inerte, fitando o palco, tomando minha água pelo canudo. Eu não lembrava de absolutamente nada, nem um tico das apresentações que já tinham acontecido. "Nossa, que show!" - pensei ironicamente. Até que, sem muito esforço, finalmente algo que prendeu a atenção, ele entrou glorioso - nem tanto assim -, com suas vestes "artísticas" que propositalmente deixavam seu peitoral à mostra. Sim, aquela era a atração principal do circo, para mim. Na verdade, só haveria ele, em todo o espetáculo, só ele. Seu rosto era afilado, de traços sutis, visivelmente másculos. Era encantador... "Bem que ele podia ser um palhaço e me chamar para uma dessas participações engraçadinhas no palco." - pensei com pesar. Ele não era palhaço, ainda que me fizesse sorrir daquele jeito, ele não era um palhaço. Na verdade, ele era sim; um palhaço, por não ser um palhaço. "Palhaço!" - xinguei-o baixinho. Sempre odiei palhaços. Chega dessa palavra! O rapaz faria um número de equilíbrio, a assistente preparou tudo, enquanto ele exibiu-se com seu corpo que, com certeza, já era desequilibrante, sorte minha estar sentada. Ele mostrou sua habilidade com uns cilindros empilhados que, francamente, me lixei. Eu reparei em seus músculos, muito mais atraentes. Eu não costumo olhar para esses aspectos, na verdade sempre rejeitei, mas aquele ambiente, o humor, o tédio... Eram grandes forças vetores, que apontaram para ele! "Nossa, que show!" - repeti fervorosa o pensamento. Fuzilei seu rosto, lindo, angelical, numa expressão de sufoco, concentrando-se em respirar. Ele era tão bonito!!!!! Foi paixão, não à primeira vista, mas durante muitas olhadas. Depois que ele saiu de cena, o sentimento foi embora junto. "Tô pronta pra outra!" - pensei. Sem ressentimentos voltei à sugar a água pelo canudo e fitar o palco, enxergando o vazio. Dei adeus à magia do circo...

domingo, 11 de agosto de 2013

Faz uma falta...

Aqui,
Bem aqui...
Ta vazio demais.
Ta frio e agonizante.
Só quero paz.

Você
Já viu,
Uma criança sofrer?
E mesmo madura,
Chorar sem entender.

Talvez,
Só talvez.
A criança cresceu.
E atrofiada tenta,
Corrigir os erros teus.

Ai,
Meu pai...
Você não percebeu.
Que o sermão dito,
Nunca foi papel teu.

Depois,
Bem depois,
Eu tento te convencer
Que tudo o que eu quero
É caminhar com você.

Me diz
Por que
Fostes tão ausente assim.
E a mágoa ainda dói,
Bem aqui...

Ali,
Logo em frente,
Num futuro não distante,
Creio que a ferida seque
E me enxergues um instante.

E eu sei
Sim, eu sei.
Que esse instante já passou,
Mas ainda há muito tempo
Pra reatar o que nunca acabou.

Pois,
Você
Se exercerá
E nada nesse mundo
Me fará deixar de te amar.

Serei,
Exercerei,
A criança, fruto de ti
E ao pegar-me em seu colo
Não me deixarás mais ir...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Abobalhada

Quando eu te vejo...
- Oh my god
Dá um aperto no meu peito.

E não tem jeito,
Bambeio,
Se brincar até pestanejo.

É um desespero
Tremendo
Quando detecto o seu cheiro.

Daí te encaro,
Reparo,
Imagino mil acasos...

Que me façam,
Sem querer,
Me jogar bem nos teus braços.

Você percebe,
E reflete
O sol quando me sorri.

Toda vermelha
Disfarço
Me desespero: o que faço?!

E aí, então
Percebo
Que sou uma bobalhona.
Sim, eu sou
- Eu sei
Uma grande bobalhona.

Mas não é
Minha culpa
Me render ao seu encanto.

É inevitável
Querer,
Mesmo que seja um engano.

Daí tropeço
Por acaso.
Juro, foi mesmo um acaso.

E caio
- Me derreto -
No seu melhor abraço.

E... Dã!
É claro,
Como uma louca te agarro.

Me aproveito
Mesmo
E isso deixo muito claro.

Que talvez,
Quem sabe,
Assim você me repare.

E perceba
Que você
Fica lindo assim, também:

Com alguém
Como eu
Bem colada a ti, meu bem.

E aí, então
Percebo
Que sou uma bobalhona.
Sim, eu sou
- Eu sei
Uma grande bobalhona.

Mas e daí?
O que tem
Gostar um bocado, assim?

Só quero que
Você
Seja um bobo with me.