terça-feira, 31 de julho de 2012

O anjo

Vou ao infinito de pés no chão, caminhando lentamente, sem água, com você; pois sei que farias chover. Andaria nas brasas do inferno, calmamente; pois sei que me aguardaria do outro lado com cubos de gelo enrolados numa malha fina e macia, que acalmaria o sofrer e o ardor. Pois sei que provei da besta mais discreta, e falhei, e cai, e me enganei. Mas sei que o que tens de discreto, tens de valioso e que não és besta, mas anjo, que me envolve nas asas e me firma no chão segurando-me pelos ombros, para que toda a minha carga seja suprida pelo teu voo. Pois sei que se eu quiser, desces ao chão e me segura pela mão, sem largar, até o fim dos tempos; até as bestas invadirem o mundo e quando esta cena ocorrer, você levantará voo e eu criarei asas.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sorriso tonto à caramelo.

Me pego nessa encruzilhada, de ser tua, amada, ou nada. Esse teu sorriso bobo de sonhador, dos sonhos que um dia meu olho sonhou e que ao abrir-se viu a escuridão e somente e apenas. Mas não brincas de ciranda pois tem medo que o anel de vidro se acabe junto com o amor. Eu entendo e aceito essa tua calmaria que tenta apagar a quimera aí dentro. Eu vejo e sinto. E gosto e agonizo. Me distraio com esse sorriso amarelado, olhar vazio - vazio porque precisa que eu crie o seu mundo. Não me torture mais. Entra logo nessa ciranda, vem aqui pro meu lado: Estendo a mão e você pega, segura firme, não solta e roda, gira, baila comigo no círculo da vida. E quando eu for para frente, você também vai; quando eu for para trás, você também vai. Onde eu for, o que eu fizer, você me imitará, certinho, no mesmo compasso que é para não desequilibrar a ''brincadeira''. Não me deixa me perder nunca mais. Eu peço, suplico, não tão encarecidamente assim; roda comigo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A máscara do poder

Estive em casa, com minha mãe protetora e meu pai zeloso, estive em meu quarto com meu ursinho, travesseiro e CD's  que me fazem rir, dançar com os pés no ar e minha mente bailar pelo mundo e de repente a sombra invadiu o lugar que por direito pertencia a minha luz e eu senti a angústia ser cravada em minhas costas, como um peso, uma cruz, que dói e me fez curvar a postura - que deveria ser ereta. Uma máscara surgiu em minha visão e ela se aproximou de minha face e senti quão gélida e amarga era; fez-me parar de salivar e embaçou minha visão com uma espécie de fumê que me tirou a nitidez, as cores... Senti um rancor me invadir, uma morbidez externa e tremor profundo. Uma serenidade segura e falsa. Ouvi um sussurro ''É assim que deve serr... Shii... Não tema, todos são assimmm...''; a voz era forte e suave o que a tornou sedutora e me senti conduzida a obedecê-la. O fiz, imediatamente e sem questionar. Disfarcei a dor, me pus ereta novamente, mantive o olhar distante, sereno e misterioso, desatei a mão que estava fechada em punho... A abri, como quem fica feliz em recebê-lo - mentira - e sorri, com a mais perfeita expressão que uma atriz pode ter. Mas algo em mim gritou querendo sair, era a luz. A sanidade queria espaço, queria ar! Mas a máscara a continha e um conflito surgiu em mim. Não sei se por medo - o mesmo medo que a máscara me induziu a perder - ou por raiva; apenas chorei. A máscara não aceitou e disse-me em pensamento ''Você não é tão boa quanto pensei, me perdeste.'' e saiu de meu rosto. Sua voz não fora sedutora, mas rude e autoritária, como de quem detinha o controle do mundo - e tinha. Chorei de novo, de alívio. Senti que por um momento deixei o mundo mudar quem eu sou, senti que fui dominada pelo mal, fui fraca e o sistema desumano tinha-me em seu controle; desabei em minha cama e afirmei a mim mesma que nunca mais ninguém me roubaria de mim.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Epigrama de amor

E como já disse Camões: Amor é fogo que arde sem se ver;
amor dói,
machuca,
faz o homem pirar
e a mulher é a paranoia - ou o contrário.

Gente gosta de sofrer,
gente gosta de sentir,
eu - graças a Deus - não sinto nada além de mim.

Amor é incerto,
irreal,
e ilude;
gente gosta de sonhar,
gente gosta de iludir.

E então percebo que sonho é protótipo de ilusão;
sinônimo mascarado.
Percebo também,
que o amor está nesse barco.

domingo, 1 de julho de 2012

Meu casulo

Alguns anos atrás - Lembro-me como se fosse ontem - em uma dessas conversas entre adulto e criança (que raramente tem assunto), uma senhora de meia idade questionou-me: Se você fosse um bicho Gabi, o que gostaria de ser? Claro que não lembro da resposta, nem se respondi e me senti desafiada a saber a resposta, melhor; não me importa que bicho eu gostaria de ser, mas qual deles eu sou.
Mais anos se passaram desde aquela pergunta e após muitas idas e vindas, - Que foram muitas - descobri! 

Eu não voo, mas sonho e mudo, transformo-me; me resguardo, cavo um buraco no meu mundo e por lá mesmo permaneço, durante dias, horas, segundos... Eu me alimento, me preparo, me habilito antes de sair mundo afora. Sempre conheço os espinhos antes das flores; enfrento as dificuldades da vida, me fortifico para depois planar.
A verdade é que sou uma lagarta - Ainda - no jardim da vida, que encara os galhos no chão, os insetos mais fortes, conhece os espinhos das flores e me resguardo em meu casulo, para depois transformar-me numa borboleta, de asas delicadas mas resistente; de aparência frágil - E de fato sou - mas sábia, que voa livre por cima das flores e dos galhos e que exala beleza e brilho por onde passa.
Ainda sou lagarta... Hei de virar borboleta.