terça-feira, 26 de março de 2013

E se

E se eu morresse,
Agora,
Você se afetaria,
Respiraria por mim?
Que falta eu faria?
Faria?

E se meu humor,
E meu cheiro,
Minha voz,
Meu amor,
Queres:
Destema,
-Bandeira branca...

É a minha mão,
Só a minha,
Que você quer?
Pois pegue-a.
Pega, e não solta.

Suas mãos tem de ser minhas,
Só minhas.
Teus lábios,
Tocarão somente os meus.
Sua pele,
Roçará só na minha.
Meu calor,
Será todo seu
E vice-versa.

E se eu sumir,
Não morrer,
Não indignar-me,
Nem lamentar,
Ou revidar,
Deixar de me amar,
Você me amaria
Por mim?

E se meu choro abafar,
Meu suor cair,
Minha perna bambear,
E não mais sorrir;
Serias feliz
Sem mim?

E se eu não fraquejar,
Lágrima alguma derramar,
E cada vez mais me fortificar,
Que dose quererias
De mim?

E se...?
Esquece.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ninar

Quero parar o relógio
Voltar o ponteiro...
E roda-lo, roda-lo, roda-lo
Até o tempo que me aconchegava no colo materno
Feito criança frágil
Que ainda sou.

Vou estagnar a vida
-Que vida!?
Pergunta minh'alma gritante.
Não posso;
A senhora do tempo há de existir
Mas não a sou.

Quero me deliciar
No dengo inocente
De quem nem se entende por gente
E chora de birra
Puro drama
Afim de atenção.

Quero carícia,
Beijo na testa,
Mãos quentes
Acariciando os fios de meu cabelo;
Que gostoso
Seria amar de novo.

Quero ouvir:
"É apenas uma criança..."
E me isentar dos erros
Imaturos
De adulto.

Não aguento o ritmo
Não puxo o tranco,
Morrerei por isso?
Me perdoe oh pátria
E mãe.

Cansei de crescer
Correr
Lutar
Chorar
Cair
Levantar.
Quero parar!!!!

Eu paro:
Se não a vida
A poesia.
...parei.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Jorrar

   Era sombria a visão... Tudo cinza; nem branco ou preto, sem contrastes, sem diversidade, variações de intensidade, nada. Era gélido, fúnebre, não estável, mas mórbido. As pessoas sorriam, tagarelavam, gritavam, mas soava oco, vazio, incoerente. As cenas perdiam a expressão, nem triste, nem alegre, apenas aconteciam. Não sentia-me bem, ou mal; não sentia. Os vocábulos eram insignificantes e o falar, confuso. Tudo se movia ao meu redor, transpirava, respirava, ecoava e eu, desfocada.
   Correria, stress, precipitação, emoção, cansaço, energia, vida, morte, admiração e antipatia... Tudo tão monótono, sonolento, irrelevante. Sol, calor, mormaço, secura... Até que choveu. Começou a cair gotas d'água como numa chuva rápida que... se intensificou e mais e mais e mais... Chove, umedece, lamacenta, molha, lava, alivia... Junto da chuva veio o frio, a paz e o silêncio. A calma que para uns é lentidão, a sabedoria que soa perda de tempo e o vazio que se preencheu; se preencheu de lágrimas. Na verdade, escoou. E enquanto chovia, o céu ficava azul, o sol alaranjado, as nuvens sumiam, os pássaros cantavam e os alarmes silenciavam. As pessoas calavam-se, relaxavam, viviam - de verdade.
  A nitidez se fez presente, o sentido se fez entender, o mundo gritou vida, cor e estabilidade. A minha última lágrima caiu e então pude enxergar o mundo, de fato. Não choveu, eu chovi. Assim descobri o alivio da maturidade...

domingo, 10 de março de 2013

Ainda

Eis que ainda pulsa, ainda bate, ainda clama, ainda chora, ainda sente...
Ainda...
Pois está aqui guardado
Evidenciado
Na fração do meu olhar
Na razão do meu viver - que razão?
Na pele nua, seca, marcada, crua
Ainda tem rachadura
Do zelo, do calor
Do medo e do tremor.
Mas é tempo, só tempo... Ainda.
Ainda bem.