sábado, 27 de outubro de 2012

Marasmo transgressor

Céu azul, nuvens claras como algodão puro, gaivotas emitindo seus encantos sonoros, o vidro transparente da janela deixava tudo nítido; tudo soava obra-prima, dádiva dos deuses que abençoavam aquele instante... Ele se pôs a beija-la, firme e suave; como um jardineiro poda sua roseira. A segurava firme no rosto tranquilo e pálido de quem se perdeu da razão. Tanta ânsia os conduziu ao baile da nudez inerente, eles beijavam-se como se não houvesse amanhã, consumiam-se no mais alto torpor do sabor, deliciavam-se com o roçar das peles e com a língua sedenta de desejo de apalpar cada pedaço ali exposto; era uma dança, ritmada pelo ''tum-tum'' do coração, sincronizada, a melodia era incorporada pela ofegante respiração e o palco lubrificado por suor. A expressão mais singela de amor ali fora consumada; impôs ao bom-senso que ficasse distante e demasiadamente ele obedeceu. Os olhos deles brilhavam, queimavam, choravam... Os olhos dela se exaltaram, acalmaram-se, sorriram. Os meus... Os meus olhos ardiam e morriam; ao notar que já não era o meu encanto que ali habitava, que não era a mim que ele enxergava. Cai, girei e continuei a cair, girando, girando... Estava tonta, mas leve; era escuro e tanto ele quanto ela haviam sumido; girei, girei e por fim acordei. Num súbito grito de dor; enxuguei minhas lágrimas e suspirei, não de alívio, mas insegurança.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Espelhos

Olho meu reflexo no espelho, é mais uma manhã daquelas... Franzo a testa ao lembrar-me da redação a ser entregue, - não há nada mais deplorável do que um papel que não possa ser amassado sequer em suas pontas. Argh. - me viro e ponho a pasta dentro da mochila. Volto-me novamente para o espelho, minha feição mudou, - percebo - estou nua na alma, transparente a mim mesma, me enxergo, me noto, como ha muito tempo não havia notado; não sei porque num instante tão medíocre, sei apenas que não gostei.
Eu não havia apenas mudado de feição, não; já não era a mesma pessoa, que pensava daquela forma, que  vestia-se daquele jeito e tinha aqueles valores... Eu me perdi, mas não no tempo ou na vida, nem no amor ou  em qualquer controvérsia; não, me perdi de mim. Não era a mesma, minha essência escapou como o brilho escapa de um olhar amargurado. Amargurada: boa descrição para minh'alma. Vi a penumbra por baixo de minhas pálpebras, estava evidente; por quanto tempo ela me habitava? Vi um repuxado torto, que inclinava minha boca para baixo, era o desenho de um sorriso triste; ha quanto tempo o meu era? Vi uma face lisa, branca, nada maciça; cadê minha vivacidade? Vi tudo em morbidez profunda, escuro, gélido, exausto e morto. Minha gata derruba algo ao longe, me distraio e por impulso desvio a atenção do espelho, retorno e vejo um rosto rosado, sonolento, mas leve, feliz; com o brilho de uma criança. Estranho por um segundo mas, eu já estava atrasada... 

domingo, 7 de outubro de 2012

Arcano

É só mistério e não segredo.
Perca o medo.
Nada que você não possa saber,
Nada que te impeça de se aproximar;
É só bloqueio, um modo de averiguar.

Não assuste-se.
Tente me desvendar.
Os enigmas movem os homens,
Deixa eu te impulsionar;
Me descodifique,
Você vai se agradar
-Assim creio.