segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O amor e o bar

 Eu poderia ter intitulado esse texto de "o amor no bar" mas, apesar de ter visto muito dele, o meu não estava lá. Seria lastimável ser autora de um texto com esse título. Me lembraria sempre da ausência dele e quando alguém viesse comentar a respeito dessa crônica, a referência da minha memória seria justamente essa. Não seria feliz. De todo modo, preciso falar de ontem, no bar. Já repararam quantas histórias começam ali, ou terminam? Ontem vi isso de perto. Nitidamente, eu diria, quando observei um homem maduro, com seus cinquenta e pouco - será? -, conversar sobre a vida com sua amante e amiga. Uma era a amante, a outra, amiga. Sim, eram duas mulheres, uma morena, a outra amarela; na flor da idade. Maduras o bastante para estarem em um bar, talvez nem tanto para aquele coroa. Elas não eram bonitas, nem ele. Mas o desejo estava mais que evidente - dele por elas, claro. Admirei aquele homem por isso. Elas não atraíram o olhar de nenhum outro homem, mas o daquele coroa brilhava sedento. Sorri quando vi a cabeça dele mergulhar no peito da morena. Que imagem doce... Se eu tivesse um cavaquinho e algum talento para tocá-lo, teria feito um samba, aquilo foi inspirador. Depois de alguns minutos fitando o trio, mas sem nota-los, dei por mim e voltei a terra. Me espreguicei e aliviei meus músculos. Aquelas cadeiras de madeira são lindas, rústicas, mas desastrosas para minha coluna. Analisei ao meu redor e percebi os numerosos casais trocando carícias e beijos. A inveja encheu-me o coração e fez-me vulnerável ao ponto do vento medíocre eriçar meus pelos. Fiz do vento o toque dele - era bem mais confortável pensar assim... Um bêbado ria sozinho na mesa do canto e apesar disso, pareceu-me triste. Supus um coração partido; pelo amor, óbvio. Ele enchia o copo, tomava em gole único e batia o copo na mesa enquanto soltava ar pela boca em sinal de ardência do álcool. Aquilo com certeza era amor quebrado. E então, o trio que falei no começo desviou meu olhar do senhor embriagado quando passaram depressa pela porta de saída, o coroa estava elétrico, ansioso e nervoso. As mulheres animadas; só. Estava feliz em ver gente feliz. Mas um outro lado meu não estava. Todos se amavam - mesmo o casal resmungão da mesa ao lado, pois nem ele, nem ela, iam embora. Quando um casal insiste em discutir, ao invés de dar meia volta, é sinal de que ambos sabem da solução ou, no mínimo, querem descobrir; juntos. Sempre juntos. Juntinhos da silva. Exatamente como eu queria estar... Lembro que tomei o último gole do suco e... Não sei quanto tempo mais fiquei ali apreciando o bar e o amor, nem como fui chegar em casa depois. Sei também que sonhei com ele, pois anotei isso antes que voltasse a dormir. Mesmo no meu estado "grogue" da madrugada, sabia que não me lembraria do sonho pela manhã. Afinal, o que é um sonho perto do amor que vi naquele bar?