segunda-feira, 27 de maio de 2013

Achei

No canto do armário,
No rabisco do caderno,
No bilhete escrito em quatro versos...
Achei.

No bolso da calça,
No cheiro da roupa suja,
No meu reflexo nua...
Achei.

Debaixo do travesseiro,
No movimento do ponteiro,
No laço do meu cabelo...
Achei.

No arranhão da minha mão,
No sangrar do coração,
Nesses versos e na confusão...
Achei.

No azul do céu,
No desenho do papel,
Nos teus olhos...
Achei.

Na morte e na vida,
Na dor e na alegria,
Na eternidade...
Achei.

Achei que nunca,
Nunca ia te perder,
E no entanto...
Achei.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Assim seja

Quero meus dedos
Penetrando os fios do teu cabelo...
Quero o ardor,
Perseguir o torpor máximo do teu sabor...
Quero prolongar
Essa alegria misturada a agonia e me deliciar.

Quero o cheirar,
Tua pele morna e macia tocar
Quero dizer:
Todo esse medo... Esquece. Vamos correr!
Quero você
E seja ontem ou amanhã, deixa ser.

Quero teu beijo
Conduzindo meu corpo e vestes ao desfecho
Quero a clichê flor
Cruzada ao teu amedrontado amor.
Quero muito sarar
Essa ferida que emerge em sangue o coração sedento em pulsar

Quero me encostar
Grudar você numa parede e, simples, me entranhar.
Quero a forte cor
Grunhindo aos meus olhos, quão respeitoso é teu amendoado calor.
Quero você
E já disse e repito: seja lá como for.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

No botequim

Puxei a cadeira e sentei-me. Vi uns olhares audaciosos remetendo a minha figura que soava um tanto singela para o lugar. Meu rosto pequeno e infantil acusaram minha pouca idade e minhas vestes, a meiguice. "Isso não é ambiente para uma moça...", pensariam os velhotes. Fiz sinal ao garçom e pedi-lhe uma cerveja. O zum-zum-zum dos homens de meia-idade tornaram-se incômodos; acendi um cigarro ao dizer explicitamente com as feições "Não estou aberta à diálogos!". Creio que entenderam o recado. A bebida chegou, coloquei o cigarro na outra mão e dei um bom gole, estava geladíssima, hidratou-me. Encostei-me na cadeira, esparramada, de pernas abertas e lixando-me para o que estavam vendo/pensando - estava na mesa mais discreta, afinal, ninguém teria ângulo para observar a cor de minha calcinha. Tudo o que eu vi foi você. Minha mente estava tão inerte em sua atmosfera, que meu olhar perdeu o foco, minha pele a sensibilidade e meus ouvidos ouviam com perfeição a sua voz... Voz essa que me falou em meio segundo o quanto era surreal estar ali comigo, mais uma vez. Gemi de saudade quando despertei. Dei mais um gole, mais uma tragada e tornei a fitar o vazio procurando sua presença; achei. Você debruçou sobre a mesa, tomou meu cigarro, tragou-o e soltou a fumaça pela boca, com a cabeça de lado... Você era tão bonito... Depois virou-se para mim com um sorriso no canto da boca - minha expressão certamente estava desconcertante - e disse-me o quanto eu era boba... "Você precisa parar de me imaginar assim, com tanta frequência..."; sua voz era emblemática, suave, apaixonante. Gemi, dessa vez num suspiro. Eu pensei em argumentar, pronunciar o quanto tudo aquilo era em vão, dizer-lhe que nada nesse mundo poderia me impedir de imagina-lo, mas pelo bastante que conheço de ambos, seria uma discussão sem ponto final, não quis gastar saliva, não assim... Puxei sua face para a minha, selei um beijo em sua boca, seus lábios estavam macios e gelados, devia ter tomado um gole da cerveja sem que eu percebesse... "Hummm...", pronunciei baixinho... Ele se afastou, sorriu, dessa vez como os velhotes: audacioso. Tremi... Entendi suas intenções imediatamente; provoquei balançando a cabeça em reprovação e sorrindo com a mesma audácia. Ele levantou-se e indicou que o seguisse, não me deixou espaço algum para relutâncias. Sorri mais, deixei o dinheiro na mesa, levantei-me apressada em alcança-lo, já estava bastante afastado do boteco. Virei para trás e os coroas encaravam-me assustados, eu parecia uma louca... Dei-lhes uma banana, feliz. Corri e alcancei-o, segurei sua mão e caminhamos no sereno; eu, você e minha imaginação...