sexta-feira, 10 de maio de 2013

No botequim

Puxei a cadeira e sentei-me. Vi uns olhares audaciosos remetendo a minha figura que soava um tanto singela para o lugar. Meu rosto pequeno e infantil acusaram minha pouca idade e minhas vestes, a meiguice. "Isso não é ambiente para uma moça...", pensariam os velhotes. Fiz sinal ao garçom e pedi-lhe uma cerveja. O zum-zum-zum dos homens de meia-idade tornaram-se incômodos; acendi um cigarro ao dizer explicitamente com as feições "Não estou aberta à diálogos!". Creio que entenderam o recado. A bebida chegou, coloquei o cigarro na outra mão e dei um bom gole, estava geladíssima, hidratou-me. Encostei-me na cadeira, esparramada, de pernas abertas e lixando-me para o que estavam vendo/pensando - estava na mesa mais discreta, afinal, ninguém teria ângulo para observar a cor de minha calcinha. Tudo o que eu vi foi você. Minha mente estava tão inerte em sua atmosfera, que meu olhar perdeu o foco, minha pele a sensibilidade e meus ouvidos ouviam com perfeição a sua voz... Voz essa que me falou em meio segundo o quanto era surreal estar ali comigo, mais uma vez. Gemi de saudade quando despertei. Dei mais um gole, mais uma tragada e tornei a fitar o vazio procurando sua presença; achei. Você debruçou sobre a mesa, tomou meu cigarro, tragou-o e soltou a fumaça pela boca, com a cabeça de lado... Você era tão bonito... Depois virou-se para mim com um sorriso no canto da boca - minha expressão certamente estava desconcertante - e disse-me o quanto eu era boba... "Você precisa parar de me imaginar assim, com tanta frequência..."; sua voz era emblemática, suave, apaixonante. Gemi, dessa vez num suspiro. Eu pensei em argumentar, pronunciar o quanto tudo aquilo era em vão, dizer-lhe que nada nesse mundo poderia me impedir de imagina-lo, mas pelo bastante que conheço de ambos, seria uma discussão sem ponto final, não quis gastar saliva, não assim... Puxei sua face para a minha, selei um beijo em sua boca, seus lábios estavam macios e gelados, devia ter tomado um gole da cerveja sem que eu percebesse... "Hummm...", pronunciei baixinho... Ele se afastou, sorriu, dessa vez como os velhotes: audacioso. Tremi... Entendi suas intenções imediatamente; provoquei balançando a cabeça em reprovação e sorrindo com a mesma audácia. Ele levantou-se e indicou que o seguisse, não me deixou espaço algum para relutâncias. Sorri mais, deixei o dinheiro na mesa, levantei-me apressada em alcança-lo, já estava bastante afastado do boteco. Virei para trás e os coroas encaravam-me assustados, eu parecia uma louca... Dei-lhes uma banana, feliz. Corri e alcancei-o, segurei sua mão e caminhamos no sereno; eu, você e minha imaginação...

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