sábado, 27 de outubro de 2012

Marasmo transgressor

Céu azul, nuvens claras como algodão puro, gaivotas emitindo seus encantos sonoros, o vidro transparente da janela deixava tudo nítido; tudo soava obra-prima, dádiva dos deuses que abençoavam aquele instante... Ele se pôs a beija-la, firme e suave; como um jardineiro poda sua roseira. A segurava firme no rosto tranquilo e pálido de quem se perdeu da razão. Tanta ânsia os conduziu ao baile da nudez inerente, eles beijavam-se como se não houvesse amanhã, consumiam-se no mais alto torpor do sabor, deliciavam-se com o roçar das peles e com a língua sedenta de desejo de apalpar cada pedaço ali exposto; era uma dança, ritmada pelo ''tum-tum'' do coração, sincronizada, a melodia era incorporada pela ofegante respiração e o palco lubrificado por suor. A expressão mais singela de amor ali fora consumada; impôs ao bom-senso que ficasse distante e demasiadamente ele obedeceu. Os olhos deles brilhavam, queimavam, choravam... Os olhos dela se exaltaram, acalmaram-se, sorriram. Os meus... Os meus olhos ardiam e morriam; ao notar que já não era o meu encanto que ali habitava, que não era a mim que ele enxergava. Cai, girei e continuei a cair, girando, girando... Estava tonta, mas leve; era escuro e tanto ele quanto ela haviam sumido; girei, girei e por fim acordei. Num súbito grito de dor; enxuguei minhas lágrimas e suspirei, não de alívio, mas insegurança.

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