segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Espelhos

Olho meu reflexo no espelho, é mais uma manhã daquelas... Franzo a testa ao lembrar-me da redação a ser entregue, - não há nada mais deplorável do que um papel que não possa ser amassado sequer em suas pontas. Argh. - me viro e ponho a pasta dentro da mochila. Volto-me novamente para o espelho, minha feição mudou, - percebo - estou nua na alma, transparente a mim mesma, me enxergo, me noto, como ha muito tempo não havia notado; não sei porque num instante tão medíocre, sei apenas que não gostei.
Eu não havia apenas mudado de feição, não; já não era a mesma pessoa, que pensava daquela forma, que  vestia-se daquele jeito e tinha aqueles valores... Eu me perdi, mas não no tempo ou na vida, nem no amor ou  em qualquer controvérsia; não, me perdi de mim. Não era a mesma, minha essência escapou como o brilho escapa de um olhar amargurado. Amargurada: boa descrição para minh'alma. Vi a penumbra por baixo de minhas pálpebras, estava evidente; por quanto tempo ela me habitava? Vi um repuxado torto, que inclinava minha boca para baixo, era o desenho de um sorriso triste; ha quanto tempo o meu era? Vi uma face lisa, branca, nada maciça; cadê minha vivacidade? Vi tudo em morbidez profunda, escuro, gélido, exausto e morto. Minha gata derruba algo ao longe, me distraio e por impulso desvio a atenção do espelho, retorno e vejo um rosto rosado, sonolento, mas leve, feliz; com o brilho de uma criança. Estranho por um segundo mas, eu já estava atrasada... 

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