domingo, 18 de novembro de 2012

Morrer é viver e vice-versa

Cansados de cobranças, frustrações e da arte de lidar, por fim, decidiram se isolar. Sim, isolaram-se de tudo e o tudo incluía o nada. Fugiram do que os prendiam, deixaram para trás, largaram de mão... Celular e telefone ou TV e computador, tudo parecia conspirar... Não paravam de alarmar ou tentar pelos vícios fúteis de uma sociedade a qual tentavam não mais pertencer. Eles tentavam esquecer o mundo e o mundo os lembravam de não o esquecer. Recusaram; rígidos e fortes, rejeitaram todas as chamadas ou até ignoraram o tédio. O silêncio era o pior inimigo, a mais alta e perturbante agonia, pois já não se ouviam os ruídos de motor, as crianças chorando, os cachorros esfomeados ou o namorar dos gatos durante a madrugada, mas a inquietação do silêncio era extremamente irritante, o silêncio morto e gritante que insistia em cobrir qualquer poluição sonora, qualquer sonoridade de vida, qualquer prova de que eles mesmos estavam vivos.  Nada cabia no curto e penumbro espaço entre eles e ali só havia lugar para o amor e o conjunto de ilusões que trazia consigo. Era cômodo viver assim, era cômodo deixar de viver sem sequer ter o trabalho de se matar. Para quê realizar algo que a própria natureza e força do tempo se encarregam de fazer? Se amaram, se completaram e se tornaram subsistência um para o outro, era o mutualismo que todo casal buscava. O padecer era pertinente, era fácil morrer dia após dia e isso os alegrava. A sede foi aumentando... aumentando... aumentando... A fome também. O amor não os sustentavam mais - a verdade é que nunca sustentou. Até que, findaram felizes e realizados. A morte os consumiu tão faminta quanto eles e junto com o fim da vida, veio o fim da fome, da sede, das cobranças, frustrações e da arte de lidar. Veio o fim do barulho vivo e do silêncio morto. Veio o fim de tudo e o tudo inclui o nada.

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