sexta-feira, 16 de março de 2012

O poder da rosa

Tínhamos passado a manhã toda brigando, eu chorei, ele chorou e assim o dia se prolongou.
Fui para a casa da minha amiga, que aqui não convém identificar, estudar química, pois ela estava morrendo de medo da prova... Saímos do colégio e pegamos o ônibus, como sempre, fomos o caminho todo conversando besteiras e rindo alto demais para o silêncio que se fazia no automóvel, só ouvia-se o barulho do motor e de alguma música da rádio ecoando ao fundo, nem distinguia-se a letra, ou sequer o ritmo da música; não me importava... Essa minha mania de observar demais já era tão costumeira que nem me espantava com o que percebia. As pessoas do ônibus tinham rostos enrijecidos, numa máscara de cansaço e stress e até as que dormiam nas cadeiras desconfortáveis mantinham a expressão dura e seca, me perguntei se em alguns dias eu também tinha essa expressão, mas como já disse, não me importo muito com minhas observações.
Chegamos. Descemos do ônibus quase que correndo, pois não tínhamos visto o nosso ponto chegando, de tão entretida que estávamos... Andamos até o prédio e percebi que na calçada de cimento para entrada do hall, tinha uma marquinha bem pequena de pata de gato neném, pensei no tamanho da criaturinha que tinha posto as patinhas ali e me lembrei da vez em que vi um cimento mole e de brincadeira risquei meu nome com o palito de pirulito que eu tinha. Isso me fez rir, minha amiga me perguntou o que foi e eu lhe contei... Ela riu e confessou que já tinha feito o mesmo.
Chegamos no apartamento, comemos um macarrão deliciosamente preparado por sua mãe e finalmente estudamos, sem parar, o dia todo, até escurecer... E durante todo esse tempo a única coisa que observei foi o fato dele não ter me ligado ou mandando uma mensagem sequer. Me preocupei, mas meu orgulho me fez esquecer essa constatação rapidinho.
Finalmente, no término do dia do estudo, quando tanto eu quanto minha amiga estávamos afiadas em estequiometria, ele me ligou, perguntando se eu queria ir lanchar, pra conversarmos; fiquei meio preocupada pois ele nunca tinha me chamado pra ''conversar'' antes, não nessas situações de brigas, mas aceitei, eu tinha outra escolha?
Ele veio me buscar e só em vê-lo a raiva passou e quando ele me estendeu uma rosa e falou, melodicamente, com um sorriso no rosto (ele sabe o poder que seu sorriso exerce sobre mim):
-Me desculpa...
-Será que devo?
Estávamos no meio da rua, perto do ponto de ônibus de frente a portaria do prédio da minha amiga... Olhei para o vidro fumê da ''casinha do porteiro'' e vi o bastante (dois olhinhos arregalados, atentos ao que acontecia do lado de fora, onde eu estava), ele percebeu pelo meu olhar que eu concluiria que ali não era o melhor local para aquela conversa e disse:
-Vem, vou te levar pra lanchar.

E eu nem ligava mais para a conversa, já o tinha desculpado mesmo... Queria era comentar da rosa, pois essa observação eu não deixaria passar.

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