Tínhamos passado a manhã toda brigando, eu chorei, ele
chorou e assim o dia se prolongou.
Fui para a casa da minha amiga, que aqui não convém
identificar, estudar química, pois ela estava morrendo de medo da prova...
Saímos do colégio e pegamos o ônibus, como sempre, fomos o caminho todo
conversando besteiras e rindo alto demais para o silêncio que se fazia no
automóvel, só ouvia-se o barulho do motor e de alguma música da rádio ecoando
ao fundo, nem distinguia-se a letra, ou sequer o ritmo da música; não me
importava... Essa minha mania de observar demais já era tão costumeira que nem
me espantava com o que percebia. As pessoas do ônibus tinham rostos
enrijecidos, numa máscara de cansaço e stress e até as que dormiam nas cadeiras
desconfortáveis mantinham a expressão dura e seca, me perguntei se em alguns
dias eu também tinha essa expressão, mas como já disse, não me importo muito
com minhas observações.
Chegamos. Descemos do ônibus quase que correndo, pois não
tínhamos visto o nosso ponto chegando, de tão entretida que estávamos...
Andamos até o prédio e percebi que na calçada de cimento para entrada do hall,
tinha uma marquinha bem pequena de pata de gato neném, pensei no tamanho da
criaturinha que tinha posto as patinhas ali e me lembrei da vez em que vi um
cimento mole e de brincadeira risquei meu nome com o palito de pirulito que eu
tinha. Isso me fez rir, minha amiga me perguntou o que foi e eu lhe contei...
Ela riu e confessou que já tinha feito o mesmo.
Chegamos no apartamento, comemos um macarrão deliciosamente
preparado por sua mãe e finalmente estudamos, sem parar, o dia todo, até escurecer...
E durante todo esse tempo a única coisa que observei foi o fato dele não ter me
ligado ou mandando uma mensagem sequer. Me preocupei, mas meu orgulho me fez
esquecer essa constatação rapidinho.
Finalmente, no término do dia do estudo, quando tanto eu
quanto minha amiga estávamos afiadas em estequiometria, ele me ligou,
perguntando se eu queria ir lanchar, pra conversarmos; fiquei meio preocupada
pois ele nunca tinha me chamado pra ''conversar'' antes, não nessas situações
de brigas, mas aceitei, eu tinha outra escolha?
Ele veio me buscar e só em vê-lo a raiva passou e quando ele
me estendeu uma rosa e falou, melodicamente, com um sorriso no rosto (ele sabe
o poder que seu sorriso exerce sobre mim):
-Me desculpa...
-Será que devo?
Estávamos no meio da rua, perto do ponto de ônibus de frente
a portaria do prédio da minha amiga... Olhei para o vidro fumê da ''casinha do
porteiro'' e vi o bastante (dois olhinhos arregalados, atentos ao que acontecia
do lado de fora, onde eu estava), ele percebeu pelo meu olhar que eu concluiria
que ali não era o melhor local para aquela conversa e disse:
-Vem, vou te levar pra lanchar.
E eu nem ligava mais para a conversa, já o tinha desculpado
mesmo... Queria era comentar da rosa, pois essa observação eu não deixaria
passar.
Simples, interessante e lindo *_*
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