sexta-feira, 15 de março de 2013

Jorrar

   Era sombria a visão... Tudo cinza; nem branco ou preto, sem contrastes, sem diversidade, variações de intensidade, nada. Era gélido, fúnebre, não estável, mas mórbido. As pessoas sorriam, tagarelavam, gritavam, mas soava oco, vazio, incoerente. As cenas perdiam a expressão, nem triste, nem alegre, apenas aconteciam. Não sentia-me bem, ou mal; não sentia. Os vocábulos eram insignificantes e o falar, confuso. Tudo se movia ao meu redor, transpirava, respirava, ecoava e eu, desfocada.
   Correria, stress, precipitação, emoção, cansaço, energia, vida, morte, admiração e antipatia... Tudo tão monótono, sonolento, irrelevante. Sol, calor, mormaço, secura... Até que choveu. Começou a cair gotas d'água como numa chuva rápida que... se intensificou e mais e mais e mais... Chove, umedece, lamacenta, molha, lava, alivia... Junto da chuva veio o frio, a paz e o silêncio. A calma que para uns é lentidão, a sabedoria que soa perda de tempo e o vazio que se preencheu; se preencheu de lágrimas. Na verdade, escoou. E enquanto chovia, o céu ficava azul, o sol alaranjado, as nuvens sumiam, os pássaros cantavam e os alarmes silenciavam. As pessoas calavam-se, relaxavam, viviam - de verdade.
  A nitidez se fez presente, o sentido se fez entender, o mundo gritou vida, cor e estabilidade. A minha última lágrima caiu e então pude enxergar o mundo, de fato. Não choveu, eu chovi. Assim descobri o alivio da maturidade...

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