sexta-feira, 26 de abril de 2013

Levanta e corre

De pijama, Maria levanta-se da cama com preguiça, com a intenção de atender a sua necessidade de olhar a manhã surgir. São 5:30 da manhã no sítio, o galo já cantou e a garoa cessou. Com mazela, arrasta-se até a varanda, senta no chão frio de cimento e encara o verde do capim molhado. O teto forrado apenas por telha dá espaço para alguns pingos d'água gotejarem em sua cabeça que se volta para o alto... Maria encara o telhado procurando pela abertura por onde a água cai, está bem acima de sua cabeça. Não, ela não se irrita, permite que as gotas molhem seu rosto, lubrifiquem sua visão e provoquem arrepios gelados. Maria torna a fitar o horizonte, o sol nascer e a grama reluzir. Se encanta... O vento a envolve junto aos primeiros raios de calor, sua pupila se encolhe, deixa espaço para a íris esbanjar seu marrom, seus pelos se eriçam não pelo tempo lá fora, mas o tempo dentro de si. Maria constata que o tempo passa, rápido, demais. Inquieta-se; não quer perder tempo, sequer pensando nisso. Sente um anseio tremendo de correr com tal velocidade que a fizesse se sentir flutuando acima do vasto verde. Se põe ereta, rígida, aperta a mão em punho, convencendo a si mesma de que é loucura saciar sua vontade. Contrai mais a mão e sente a unha perfurar sua palma, tenta fincar os pés no chão. Imóvel, assim fica por uns minutos, sempre fitando o horizonte. Maria sente duas forças: uma a empurra para a vida, o mundo, outra a contém, puxa para baixo, mantém seus pés mórbidos. "O medo puxa para baixo.", pensou. Ela decide arriscar, se aventurar, se permitir vivenciar o desconhecido... Abre as mãos que respiram aliviadas, o sangue volta a circular e num súbito, seus pés se desconectam do chão, vibram ao sentir a grama ainda úmida, o corpo responde com a sensação de choque. Maria corre, sente a brisa puxando seus fios para trás, a resistência é tremenda, contudo insignificante. Maria está determinada, como nunca antes. A sensação de vida a penetra, ela renasce, acorda e enxerga... Nada fala, nem ofegante é sua respiração, apenas exala sua essência que atravessa o mundo de seus poros, deixa seu rastro no mato, na terra e no ar. Maria percorre metros e apesar de seu corpo relutar, a sensação é descomunal, torna-se vício. Ela não para... Até que tropeça, choca-se contra o solo, seu punho, que por reflexo amorteceu a queda, sente o impacto; Maria franze a testa em sinal de dor, em seguida se põe a rir. Aquilo era patético! A menina, aos seus 16 anos, delicia-se ao sentir pela primeira vez a grama pinicando seus membros... A água e a terra misturavam-se como perfume à sua pele, que se lambuzava cada vez mais. O sorriso se expande. A chuva torna a cair e a menina, relaxa de tal maneira que, dorme serena em meio ao nada de verde vivo.

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