sexta-feira, 12 de abril de 2013

Ao final da tarde

O sol já vai... Abro a janela da sala para contemplar tal despedida. Pensei em muitas coisas, mas no fim das contas nada concluí. A cigarra canta, de início é gostoso ouvir sua canção repetitiva, só de início; alguns instantes depois, irrito-me. O cantarolar da cigarra me faz lembrar de outras tardes... De outras despedidas do sol... Que esse meu hábito ocorria em outra janela... A imagem daquela janela se formou em minha mente. Lembro-me das boas tragadas que ali dei. Inclinava-me e fazia dos cotovelos um suporte para os ombros e a cabeça; fumava, sentia a paz penetrando meus pulmões, ressecando a garganta que a pouco soluçava... Que torpor! - O vício tapa os buracos do coração. - Hoje o meu vizinho não ligou o som. Soou um bocado abobalhada essa constatação, mas não era. Pois naquelas tardes, a rádio sempre estava em sintonia e azucrinava a todos do prédio. O barulho e a fúria dos moradores com o 103 dava vida e movimento ao dia, me lembrava que apesar de só, tinha gente ao meu redor. Haviam 2 meses exatos que não dava uma boa tragada, abandonei o cigarro por questões médicas. Mas, um bom viciado só troca de vício. É um mal eterno, aceite. Quando dei por mim, a cigarra já silenciara e o sol havia partido, estava escuro, não breu, mas já era momento de desconfiança e passo acelerado, ao menos aqui nas redondezas. Olho o relógio e vejo que é mais cedo do que o céu parece; lembro-me do solstício de inverno e tudo faz sentido. Sinto-me exausta, não sei a razão, mas honestamente? Exatamente isso que me cansa: a falta de razão. Decido cochilar, mas acabo por me afogar na cama em meio as lagrimas, asfixiar por entre as angustias e morrer ao fechar os olhos e sonhar. - Seria bem melhor se eu ainda fumasse. Lembrarei-me de dizer isso ao doutor, logo que acordar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário