sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O mágico mundo do (rapaz do cilindro) circo!

"Que bobagem!" - pensei. Minha mãe tinha mesmo que inventar de ir ao circo? Nem quando criança gostava muito. Talvez na primeira vez, ou até na segunda, mas da terceira visita em diante já havia perdido a graça. Tudo bem, depois da aula encontrei com a ''madame'' e fomos ao tal circo. No caminho o tédio já me consumia, preparava minha mente para ver as mesmas coisas, me impressionar - ou não - com os mesmos truques, me irritar com o barulho ensurdecedor do nada inédito globo da morte, fingir achar graça das piadinhas dos palhaços... "Aargh, ninguém merece!". Talvez, para maioria das pessoas eu soasse um bocado sem graça, ranzinza, ou como minha mãe resmungou, uma "velha mal amada". Não é fácil ser obrigada a ir ao circo e ainda ter de lidar com as pieguices de mamãe. E do restante das pessoas que me perguntaram se eu estava gostando - e sincera, respondi que não. Jamais gastaria minhas mentiras num momento débil daquele. Jamais! Sentamos bem à frente, na primeira fileira; tentei - em vão - argumentar.
-Mãe, aqui não, eles vão molhar a gente, cê sabe!
-Deixa de reclamar Gabriella, menina chata! Eu quero aqui, que dá pra ver melhor e eu to mandando você ficar aqui também!
-Mas mãe, meus cadernos! Sabe-se lá o que esse povo vai fazer, não quero correr riscos!
-Cala a boca e senta, menina! Anda, tô mandando!
-Chata!
-Sentou?!
Sim, eu sentei e mais emburrada impossível, diga-se de passagem. Pareceu que todo mundo do trabalho da ''majestade'' resolveu ir ao circo também. Minha mãe tagarelou, me obrigou a sorrir, ser simpática e por ter sido umas das primeiras a chegar, bancou a anfitriã de sei lá o quê, com seus ''Ah, pode sentar viu? Fique à vontade...", sorrindo acolhedora. "Até parece que o circo é dela!" - eu resmungava em mente, ainda abusada com o autoritarismo cujo fui vítima. "Quem dera fosse..." - complementei. Pois bem, as luzes apagaram e a gravação estava no ''play''. "Vamos lá...", pronunciei baixinho, desanimada, enquanto respirei fundo. Quando dei por mim, 37 minutos haviam se passado e eu estava inerte, fitando o palco, tomando minha água pelo canudo. Eu não lembrava de absolutamente nada, nem um tico das apresentações que já tinham acontecido. "Nossa, que show!" - pensei ironicamente. Até que, sem muito esforço, finalmente algo que prendeu a atenção, ele entrou glorioso - nem tanto assim -, com suas vestes "artísticas" que propositalmente deixavam seu peitoral à mostra. Sim, aquela era a atração principal do circo, para mim. Na verdade, só haveria ele, em todo o espetáculo, só ele. Seu rosto era afilado, de traços sutis, visivelmente másculos. Era encantador... "Bem que ele podia ser um palhaço e me chamar para uma dessas participações engraçadinhas no palco." - pensei com pesar. Ele não era palhaço, ainda que me fizesse sorrir daquele jeito, ele não era um palhaço. Na verdade, ele era sim; um palhaço, por não ser um palhaço. "Palhaço!" - xinguei-o baixinho. Sempre odiei palhaços. Chega dessa palavra! O rapaz faria um número de equilíbrio, a assistente preparou tudo, enquanto ele exibiu-se com seu corpo que, com certeza, já era desequilibrante, sorte minha estar sentada. Ele mostrou sua habilidade com uns cilindros empilhados que, francamente, me lixei. Eu reparei em seus músculos, muito mais atraentes. Eu não costumo olhar para esses aspectos, na verdade sempre rejeitei, mas aquele ambiente, o humor, o tédio... Eram grandes forças vetores, que apontaram para ele! "Nossa, que show!" - repeti fervorosa o pensamento. Fuzilei seu rosto, lindo, angelical, numa expressão de sufoco, concentrando-se em respirar. Ele era tão bonito!!!!! Foi paixão, não à primeira vista, mas durante muitas olhadas. Depois que ele saiu de cena, o sentimento foi embora junto. "Tô pronta pra outra!" - pensei. Sem ressentimentos voltei à sugar a água pelo canudo e fitar o palco, enxergando o vazio. Dei adeus à magia do circo...

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